Pensar é uma coisa, realizar um pensamento, outra. Nada exige tanta paciência e tanta "ciência do possível". Anísio Teixeira (Carta a Monteiro Lobato, 29 jan.1947.)

segunda-feira, 12 de março de 2012

13 de março: aniversário de Antônio Conselheiro!

Antônio dos Mares





O Rabudo noticiou:

Infesta um aventureiro santarrão que se apelida por Antônio dos Mares!

....A cabeça degolada não ceifouum  destino, mas caiu nas mãos de um menino, que por louco o diagnosticou...

A pena de Nina Rodrigues encerrava o que Deus só começou...

Ah, que horror!!!!Antônio Conselheiro, extraterrestre, um estrangeiro, transpassado pela cruz e pela espada, renascido pela dor.

Pisciano, na carta da morte: 13, no Tarô!

Vem de longe seu mistério esquisito: um fracassado a guiar desvalidos!

E vem de longe a triste república nascida do grito deum homem só!

Brasilis: crepúsculo da desigualdade moral, social, auau, miau! Que dó!

Fraternidade alheia, canto de sereia, uns baleias, outros piabas na areia!!!!!



Tão cedo, Conselheiro, perdestes a tua mãe;

e tua amada, pelo adultério, maculou teu orgulho viril...

Mas todo homem , um dia, encontra  sua Eva pelo caminho.

O lótus nasce da lama e de um homem mofino

nascia o peregrino, vestido de mar, cercado de colinas...



Triste Conselheiro, também foi professor,

advogado e aventureiro sob as ordens do Senhor!

Ah, Cosme de Farias! Já não há mais homens

que sejam o mesmo de noite e de dia!



Jesus foi para o deserto preparar-se para a traição

e os Canários eram urubus vigiando a guarnição...

Pacto com os republicanos: revoada de poeira, terra seca, sangue, destruição...

Conselheiro não tinha nada, mas ofertava a sua vida em oblação!

Quem tem sede pede água , quem tem fome pede pão!



E a manhã  alvissareira ainda  não saiu do ventre da nossa nação:

Canudos não se rendeu, a igreja e o cemitério estão em emersão.

Mas hoje nós temos conselheristas que já não põem a sua vida

a serviço de uma  grande missão;

e a miséria permanece, uma eterna ferida,

na cruel desigualdade da unidade partida.



E sob as águas, no cemitério,

a alma de  Antônio Conselheiro

se veste de carpideira e murmura:



Vem de longe a tristeza esculpida nos teus olhos

e  a melancolia é a ausência de si em ti...

A barragem foi posta no rio e vazio andas a caminhar...

Teu desejo permanece aquartelado,

pois estás sempre a olhar de lado,

buscando réstias e cantos de sabiá...

Mas o tempo só volta na memória fria

e a tua primeira face não se refrata nos espelhos

do que te quiseram, ou fizeram,

ou  você deixou levar...


Olho para os teus olhos

e vejo  desejos silenciados pela diplomacia,

que nos permite viver,

mas,  às vezes, cobertos de neve fria!

E o clarão que descortina as manhãs,

adormece no teu sorriso,

quase um bosque, em fim de estação.


Os ventos lhe mostram o Norte, mas o medo lhe conduz para o Sul.

As flores se vestem de arco-íris, mas você só gosta de azul...


Um açude pode cobrir uma cidade,

mas não apaga a dignidade

daqueles que pela vida continuam a lutar!



E dentro das tuas águas represadas,

ainda se vê fontes encantadas

e tesouros, eu sei que  há!



Salvador, 15 de fevereiro de 2012